Depois da overdose, vem a ressaca. A ressaca de amor é sempre a mais perigosa. 
Enquanto o amor nos corre nas veias, acreditamos que podemos dominar o mundo. Queremos viver todas as emoções no seu expoente. Queremos atravessar mares e escalar montanhas. 
Depois, lentamente, a droga vai abandonando o nosso corpo, o êxtase vai desvanecendo, e dali a nada, começa a ressaca. O corpo pede mais. O corpo agoniza desesperado por alimentar o vicio. 
É assim o amor, quando chega, mexe em todas as nossas estruturas, abala-nos. 
Quando a pessoa que amamos bate a porta na nossa cara, ficamos anestesiados, consumidos pela dor de querer mais, e loucos por não compreendermos como é tão fácil para alguns virar as costas ao amor? 
Como é que se arruma as malas e se bate as portas de um coração?
Enquanto a festa dura, não custa nada dançar. Doloroso é manter os pés firmes na pista quando todos já abandonaram a festa. 
O mesmo acontece com a ressaca: doloroso é manter a sobriedade quando não há mais nada que nos motive a continuar depois do amor.

Letícia Brito